Gualter Baptista Júnior*
É com um sentimento de frustração e com uma preocupação sem precedente que a Federação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias do Fumo e Afins (Fentifumo) tem acompanhado o fechamento de unidades industriais de empresas tradicionais do ramo do tabaco, diante da inércia no combate ao contrabando, por parte do governo federal brasileiro.
Ainda que seja apenas um posto de trabalho fechado, sob a justificativa de readequação de processos, por parte da indústria, sinaliza que a indústria formal, o mercado legalmente constituído perde a batalha contra o cigarro ilegal no nosso país.
É devastador dizer para um funcionário que ele está demitido. Ainda que seja uma única demissão, o efeito cascata é imenso. É provável que este demitido reduza o consumo de serviços, pare de comprar produtos no comércio. Uma unidade fabril que fecha, e temos aqui três ajustes desta natureza: as unidades de compra de Sombrio e a fábrica de Blumenau, da Souza Cruz em Santa Catarina, e a unidade de compras da Philip Morris Brasil em Santa Cruz do Sul, fechadas para ajustar o trabalho à realidade das empresas que encolhem diante do contrabando de cigarro são uma catástrofe para suas comunidades, sobretudo para os trabalhadores que forem dispensados.
Não é a quantidade de demissões, e sim as demissões. Estamos perdendo espaço para o mercado ilegal, enquanto o governo federal se vangloria de uma falácia. Comemora a restrição ao tabaco, o que chama de redução gradual do consumo de cigarros, quando o consumo segue o mesmo, quem sabe até maior, para o lado do contrabando, que já responde por mais da metade do cigarro vendido dentro do Brasil. Que redução é esta, se não a da indústria legal, das empresas que geram riqueza, divisas e impostos para o Brasil, que dão emprego e dignidade no campo e na cidade.
Ainda que seja apenas um emprego, ou pouco mais que isso, cada vez que encerrarmos um posto de trabalho para o contrabando, podemos nos considerar derrotados para este problema que degrada a cadeia produtiva legal e formalmente constituída. A Fentifumo é solidária aos trabalhadores que perderam seus empregos em Santa Cruz do Sul, Sombrio e Blumenau, e segue engajada aos demais elos da cadeia produtiva organizada, na mobilização contra o cerceamento da atividade legal, contra o contrabando e as penalidades impostas ao setor. Ainda que seja apenas um emprego, estaremos sempre alerta.
*Presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias de Fumo e Afins (Fentifumo)